Icterícia Neonatal

Dra. Vanessa Radonsky


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Icterícia é uma condição comum em recém-nascidos. Refere-se à cor amarela da pele e do branco dos olhos que é causada pelo excesso de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é um pigmento normal, amarelo, gerado pelo metabolismo das células vermelhas do sangue. Os recém-nascidos tendem a ter níveis de bilirrubina mais elevados porque possuem hemácias extras no corpo, e seu fígado ainda não consegue metabolizar o excesso de bilirrubina.
À medida que os níveis de bilirrubina aumentam, o amarelo vai descendo: começa na cabeça, vai para o pescoço, depois chega ao peito e, em casos graves, chega até os dedos do pé.


A prevalência da icterícia depende bastante da origem racial da criança. Bebês de origem asiática têm mais tendência a ter icterícia em comparação a recém-nascidos brancos e negros.


Em bebês nascidos a termo, ou seja, depois de 37 semanas de gestação, o pico da bilirrubina acontece no segundo ou terceiro dia de vida e esta presente em cerca de 60% dos bebes.  Em prematuros, esse número sobe para 80% e o pico de bilirrubina acontece entre o quinto e o sétimo dia depois do parto.


Não tratar a icterícia traz conseqüência graves para o bebê. A bilirrubina pode ser absorvida pelo cérebro e causar Kernicterus, uma doença que gera danos neurológicos como cegueira e surdez, algumas vezes pode levar a morte


Tipos de Icterícia:
Existem diversos tipos de icterícia no recém-nascido. Seguem as mais comuns:


# Icterícia fisiológica:
Ocorre em cerca de 50% dos recém-nascidos. É um processo benigno, porém, devido á sua potencial toxicidade, deve ser monitorada.
O RN a termo apresenta icterícia visível com bilirrubina > 7mg/dL, alcançando um pico no terceiro dia de vida. Nos prematuros, o pico é no quinto dia de vida, podendo alcançar 15 mg/dL sem nenhuma alteração específica no metabolismo da bilirrubina.

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# Icterícia do leite materno:

  Em 1 a 2% dos bebês alimentados ao peito, pode ocorrer icterícia causada por substâncias que reduzem a excreção intestinal de bilirrubina. Começa geralmente ao redor dos 4 a 7 dias de vida e pode durar de 3 a 10 semanas.


# Icterícia Patológica:

  Surge nas primeiras horas de vida e apresenta uma rápida elevação do nível de bilirrubina indireta subindo a uma taxa superior a 0,5mg/dL/hora. Apresenta valores superiores a 12 mg/dL no recém-nascido a termo e superior a 15 mg/dL nos prematuros.

  Pode estar relacionado a diversas alterações clínicas como aumento do tamanho do baço e fígado, palidez da pele e mucosa, vômito, letargia, perda de peso entre outras.

  Entre as causas patológicas, a mais comum ocorre devido incompatibilidade de grupo sanguíneo (Rh ou ABO): neste caso a icterícia muitas vezes começa no primeiro dia de vida. Incompatibilidade de Rh causa a forma mais severa de hiperbilirrubinemia indireta, sendo prevenida com uma injeção na mãe de imunoglobulina anti-Rh (RhoGAM).


  Outras causas de icterícia incluem: infecção congênita, doenças hepáticas, deficiência de hormônio do crescimento, sepse, sangramento extravascular como cefalohematoma, hemoglobinopatias entre outros.


Diagnóstico:


Um teste simples para icterícia é apertar suavemente com a ponta do dedo a ponta do nariz ou a testa da criança. Se a pele permanece branca (este teste funciona para todas as raças) não há icterícia; se a cor for amarelada, confirma o diagnóstico clínico. Na presença de pele muito amarelada, há necessidade de exames de sangue para avaliar a intensidade, fazer um diagnóstico mais preciso do tipo de icterícia e indicar o tratamento mais adequado. A dosagem transcutânea de bilirrubina pelo Bilicheck® pode ser utilizado para acompanhamento da evolução.

Tratamento


  As possíveis formas de tratamento propostas incluem fototerapia, exsanguineotransfusão, suspensão do aleitamento materno nos casos relacionados e a administração de drogas adjuvantes, tais como metaloporfirinas inibidoras da heme-oxigenase e imunoglobulina endovenosa.


# Fototerapia:

  A fototerapia é, sem dúvida, a modalidade terapêutica mais utilizada mundialmente para o tratamento da hiperbilirrubinemia neonatal.

  Entre os tipos de fototerapia temos a fototerapia convencional, o uso de bilispot e o biliberço.

  O sucesso da fototerapia depende da transformação fotoquímica da bilirrubina nas áreas expostas à luz. Essas reações alteram a estrutura da molécula de bilirrubina e permitem que os fotoprodutos sejam eliminados pelos rins ou pelo fígado sem sofrerem modificações metabólicas.

Como a fototerapia age no nível da pele do paciente, pode-se deduzir que a superfície corporal exposta à luz é uma determinante importantíssima na sua eficácia. Quanto maior a área irradiada, maior a eficácia da fototerapia. É sempre importante lembrar da proteção ocular para prevenção de alteração na retina.


# Exsanguineotransfusão

  O objetivo principal da exsanguíneotransfusão é remover o excesso de bilirrubina, prevenindo assim seus efeitos tóxicos. Com essa técnica, cerca de 85% das hemácias circulantes são substituídas quando o volume de sangue trocado equivale a duas vezes a volemia do RN (80 ml/Kg).Geralmente, a concentração sérica de bilirrubina é reduzida em 50%. As indicações de exsanguineotransfusão devem ser individualizadas e sempre baseadas em julgamento clínico global do paciente ictérico.